O Actor Rui vai interpretar São Francisco de Assis num espectáculo dirigido pelo Encenador Marco Paiva onde se pretende explorar as contradições do tardo-capitalismo e desconstruir as teses neoliberais dialogando com a vida e exemplo do fundador da ordem dos franciscanos. Como método de preparação para a criação do papel, o Encenador Marco Paiva ter-lhe-á sugerido que pudesse fazer, por exemplo, uma peregrinação a Roma onde pudesse ver, se calhar, o Papa Francisco. Coisa que é levada muito a sério pelo Actor Rui – uma sugestão que se provará ser a pior ideia que um encenador poderia ter tido.
O espectáculo decorre do quilómetro mil duzentos e dois ao quilómetro mil duzentos e cinco. O Actor Rui, equipado com os melhores gadgets e apetrechos concebidos para ajudar o caminhante profissional, tem já os pés em chagas e todo o seu corpo reclama descanso. Mas, na berma da estrada onde agora se encontra, tudo parece começar a pedir rendição. O Actor Rui vai-se desfazendo dos seus pertences, deitando e distribuindo os gadgets e apetrechos para caminhar mais leve. Para poder até voltar a caminhar. E, depois de se ir apercebendo da leveza com que se vai erguendo depois de se desapossar das suas tralhas, apercebe-se que está, finalmente, pronto para falar aos bichos.
Este não é um espectáculo religioso. Nem sobre religião – quem somos nós para achar que nos religamos seja ao que for? –, nem sobre uma ideia benéfica de pobreza (que chega a ser obscena). É, quanto muito, um exercício de revisitação e recriação de modos de relação com um mundo que nos faça a todos mais livres (incluindo os Bichos).
A Terra Amarela é uma estrutura fundada em Abril de 2018, com direção artística do ator e encenador Marco Paiva. Da fundação da Terra Amarela fazem ainda parte um conjunto de artistas provenientes de diversas linguagens criativas, bem como outros profissionais ligados às práticas artísticas, culturais e sociais. O aparecimento da Terra Amarela responde à necessidade de criar um espaço de diálogo artístico, social e comunitário mais alargado, que possa dar continuidade ao trabalho que o diretor artístico Marco Paiva iniciou no ano 2000 junto do projeto Crinabel Teatro, um grupo constituído por intérpretes com deficiência intelectual. A diversidade das parcerias já estabelecidas efetivam os objetivos traçados para a Terra Amarela: criar um espaço coletivo, que opere numa rede de parcerias artísticas multidisciplinares nacionais e internacionais.