Há memórias que me acompanham desde a infância e, nesse tempo, eu não tinha um enquadramento para elas. Lembro-me do meu pai e de outros homens que se encontravam por causa de uma guerra que eu, em criança, desconhecia. Contavam episódios desconexos, alguns sussurrados.
Com a recordação destes episódios veio a ideia de que os corpos transportam memórias. O que ficou no corpo do meu pai da Guerra Colonial? Como poderei pensar e sentir o seu corpo enquanto arquivo? Por que é que o seu corpo parece trazer, por vezes, memórias silenciadas? E, num segundo plano, como é que o meu próprio corpo, em cena, poderá revelar algumas destas memórias?
Destas perguntas, fez-se investigação e espectáculo. Através de uma narrativa revelando episódios da vida de um homem que passou pela Guerra Colonial (o meu pai), investigo esta ideia de corpo como lugar de memórias. Percorro, neste momento, este arquivo de memórias, o nosso Corpo Suspenso, em cena.
Rita Neves frequentou Filosofia, FCSH, UNL (1999/2001) e é licenciada em Formação de Actores pela ESTC (2008), tendo trabalhado com diferentes criadores: Agnès Limbos, Álvaro Correia, Cucha Carvalheiro, Filipe Crawford, João Brites, Pedro Alvarez Ossório, Sílvia Real, outros. Trabalhou em Teatrão (depois de CENDREV, 2003), Comédias do Minho (2004/2005) e Vara Teatro (2012). Encenou Brel como num sonho, IFP (2010), partindo de textos de Jacques Brel. Participou em Fim ou projecto frágil…, Vara Teatro (Teatro da Trindade, 2012), na curta-metragem Limbo, de Raquel Palermo (2012) e nos espectáculos Escombros de Antigas Catedrais (Espaço Loja, 2012), Hoje, Não Amanhecerá, a partir da obra de Al Berto (Casa Conveniente, 2012), Tiago Vieira. Com este criador, integrou Se quiser falar mal de mim me chame…, a partir do universo de Clarice Lispector (Latoaria, 2013), O que vejo: O Inferno, a partir de textos de Schopenhauer (Latoaria, 2013) e Sempre vos detestei, a partir de Húmus de Raul Brandão (Latoaria, 2014). Participou na curta Que se lixe o Guugle, de Raquel Palermo (2014). Integrou Restos de uma Melodia Áspera, Tiago Vieira, Teatro Sá da Bandeira, Santarém (2015) e Impostora (TVI, 2016). Integrou Projecto Medeia I, a partir de Heiner Muller (Latoaria, 2017), Margarida Bento. Integrou mangatheatre, A Sacalina (Teatro Meridional, 2019), a partir do universo de Tcheckov, encenação Tiago de Faria. Está de volta ao CEM, trocando ideias com Sofia Neuparth, aprofundando a pesquisa sobre o Corpo como Arquivo.