Quando um homem do campo carregado de memórias, caminha solto no espaço, os seus pés de barro misturam-se com os dedos que se cavaram na terra. A harmonia é dissonante, no equilíbrio ele parece cambalear, como se fosse voar. Como marinheiro sem mar. A melodia desse movimento, encontra o compasso no tropeço, como um corpo suspenso, que procura o gesto para sintetizar, a ideia que se perde no meio da palavra. O ritmo determina o seu andamento pela ansiedade, e a respiração queima o ar. O texto serve apenas como ferramenta para uma construção, ou desconstrução de qualquer lógica naturalista. O texto vai ao encontro da poética das sonoridades mais rurais. Que espera este homem? Que podem esperar os homens? Que se pode esperar encontrar dentro das invenções que se reinventam para acreditar que se vive... ou não se vive. As aldeias morrem, de gentes, de bichos, e depois, de memórias que se escondem no vazio onde dorme a essência daquilo que somos e não somos. Um homem dentro da mais absoluta solidão de uma aldeia de Portugal, igual a todas as aldeias onde já ninguém vive, nessa aldeia vazia de gente, só um ser inventado, pode contar, ou inventar histórias que talvez, nunca existiram. As aldeias... realidade abandonada à própria sorte... realidade perdida… desconexa. Mítica paisagem que a todos parece envergonhar e que todos procuram ignorar, desconhecendo que mesmo desertas elas existem, mesmo sem habitantes, elas resistem, mesmo sem existirem, elas teimosamente resistem... lugar para onde não se volta mais.
Um espectáculo construído com linguagem teatral experimental, que tem como base dramatúrgica os elementos da tradição rural. O espectáculo usa a memória da cultura do mundo rural, o universo poético do popular utilizando a ficção do teatro contemporâneo. Costumes, lendas, falares, cantares e a ficção poética que revela o universo do imaginário de um homem esquecido numa aldeia de Portugal.
A história imaginada de, António, sobrevivente numa aldeia deserta. A memória desse António, testemunho do vazio. António abandonado, aquele que ficou esquecido. A terra deserta, a tradição deserta. A identidade esquecida.
A história deste homem começa quando ele, António, visita seus parentes mortos, como se ainda presentes estivessem. Conversa com eles, relembra histórias, fala da terra, das gentes, diverte-se, ri, canta, reza, chora… e pouco a pouco, vai transmitindo com crueza uma realidade que, mesmo sendo insólita, inventada pela poética, transmitida no teatro como ficção, ela é real, e alastra-se devorando gentes e terras do mundo rural.
António, mesmo sem ser explícito, denuncia a perda da nossa identidade cultural, no conflito entre a tradição e a modernidade. O drama de um homem que ficou esquecido numa aldeia deserta, pode simbolizar o deserto de tantos homens, numa sociedade que se distancia, cada dia mais, do próp rio homem. António, é feito de memórias, sonhos, saudade, raiva e vontade. A luta patética que trava com o invisível da própria vida, a comédia e a loucura da sua resistência, são os principais condimentos utilizados na construção desta dramaturgia.
Moncho Rodriguez
Corria o ano de 1999.
Um colectivo inicia as suas pesquisas e experiências de âmbito teatral, numa procura genuína e livre de preconceitos. Era necessário encontrar uma designação para um projecto que se queria longo. Alguém sugere Kompinxas, uma palavra renovada, pensávamos nós, que deriva de Compinchas, cujo significado implica companheirismo. O tempo passou e o nome da companhia lá foi ficando. De um erro na construção do primeiro website, onde em vez de se escrever Kompinxas se escreveu Kopinxas, surge o nome definitivo da companhia.
Desde a origem até hoje temos experimentado e experienciado diversos géneros artísticos desenvolvendo linguagens próprias e diferentes formas de comunicar. Procuramos entregar abertamente ao espectador, palavras, emoções e identificações portadoras de realidades de conteúdo artístico.A companhia de teatro ao longo do tempo cruzou aldeias,vilas, cidades em todo o território Português, fazendo-se representar também em Espanha,Itália e França.